Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 558 | Junho de 2025 | Campo Mourão - Paraná

FAZENDA EXPERIMENTAL

Crescer com ciência


Encontro de Inverno no Mato Grosso do Sul reuniu cooperados para troca de experiências e ampliação de conhecimento na condução das lavouras

Vista aérea do Encontro de Inverno na Fazenda Experimental

estratégia cultural é fundamental para reduzir a população de nematoides no solo", reforça.

Com o avanço do monocultivo e da sucessão de culturas como soja e milho segunda safra, o problema tende a se intensificar. Ambas as culturas apresentam alto fator de reprodução para os nematoides, o que contribui para o crescimento populacional desses organismos de uma safra para outra.

No campo, os sintomas mais comuns começam com a formação de reboleiras. As plantas nessas áreas apresentam desenvolvimento desuniforme, redução de porte e, em alguns casos, folhas com aspecto de carijó – necrose característica de determinadas espécies de nematoides. Para a confirmação, é recomendada a coleta de amostras de solo e raízes, preferencialmente na camada de 0 a 20 cm, e envio ao laboratório. "É importante fazer uma análise bem-feita para um diagnóstico preciso. O manejo eficaz depende do conhecimento técnico, planejamento e acompanhamento constante da lavoura. São várias estratégias que precisam ser integradas para minimizar os impactos no campo", orienta Esperandino.

O pesquisador, Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste, explica que a abordagem mais eficaz envolve a integração de estratégias que considerem tanto a redução da população do patógeno quanto o fortalecimento da tolerância das plantas. "Existem dois enfoques principais para o manejo: um deles é atacar diretamente o nematoide; o outro criar um ambiente favorável para que a planta tolere sua presença", afirma Asmus.

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

Segundo ele, é comum que o produtor opte inicialmente pelo combate ao organismo, buscando reduzir sua população com o uso de defensivos ou agentes de controle. No entanto, essa estratégia precisa ser combinada com ações que promovam o equilíbrio físico, químico e biológico do solo. Além disso, é necessário corrigir problemas estruturais no solo, como compactação e desequilíbrios nutricionais, para favorecer o desenvolvimento radicular das plantas. "É muito difícil erradicar o nematoide porque ele faz parte do sistema do solo. O que se busca é conviver com ele da melhor forma possível, minimizando os prejuízos", explica o pesquisador.

Nesse contexto, o uso de agentes biológicos tem ganhado espaço no manejo integrado. Esses microrganismos, quando bem manejados, contribuem para o controle das populações de nematoides no solo. "As soluções biológicas têm mostrado potencial, mas precisam de suporte. É necessário associá-las a práticas como o uso de palhadas e culturas de cobertura, que proporcionam um ambiente mais favorável à ação desses organismos", destaca Asmus.

A detecção precoce do problema é outro ponto crucial. Em caso de suspeita, é fundamental realizar coletas de solo e raízes e encaminhar o material a um laboratório especializado. "Uma vez identificada a presença de nematoides, o produtor deve buscar recomendação técnica qualificada para definir a melhor estratégia de manejo. Pensar no sistema como um todo é essencial. Uma ferramenta isolada dificilmente resolverá um problema tão complexo como o dos nematoides", conclui o pesquisador.

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

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Airton Galinari, presidente Executivo da Coamo, durante o 2º Encontro de Inverno

Airton Galinari, presidente Executivo da Coamo

A segunda edição do Encontro de Inverno na Fazenda Experimental da Coamo, realizada nos dias 4 e 5 de junho em Dourados (MS), reuniu cooperados, profissionais da cooperativa e representantes de empresas parceiras, para um amplo intercâmbio de informações técnicas voltadas à produção agrícola.

O encontro reforça o papel da Fazenda Experimental como espaço de pesquisa aplicada, orientação técnica e transferência de conhecimento para apoiar o desenvolvimento das lavouras dos cooperados do Mato Grosso do Sul. O presidente Executivo da Coamo, Airton Galinari, destaca a importância estratégica da fazenda para a cooperativa e os cooperados. “É uma alegria promover esse evento em Mato Grosso do Sul. Era um sonho que virou realidade para o cooperado e para a Coamo.”

Segundo Galinari, a presença dos cooperados no encontro reforça o objetivo da Coamo de promover a cultura da informação técnica. “É importante que os cooperados participem para aproveitar tudo aquilo que é oferecido de informação e tecnologia.”

Durante o evento, eles conheceram como a Coamo realiza as pesquisas em parceria com instituições, com foco na validação de tecnologias agrícolas. O trabalho envolve a avaliação das práticas agrícolas para subsidiar as recomendações feitas pela equipe técnica da cooperativa. “Na Fazenda Experimental, tiramos esse risco dela. A Coamo só oferece tecnologias comprovadas.”

O diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo, Aquiles de Oliveira Dias, destaca o compromisso da cooperativa com a transferência de conhecimento e a capacitação contínua das equipes e dos cooperados. “Nós temos toda uma equipe técnica que está junto do cooperado levando essas informações”, afirma.

A estrutura da pesquisa da Coamo inclui três fazendas experimentais: Campo Mourão (PR), Dourados (MS) e Mangueirinha (PR). Juntas, somam cerca de 270 ensaios conduzidos por ano. “É muito importante que essas informações cheguem até os cooperados, e a forma que temos de fazer isso é treinando a equipe e trazendo os cooperados para participar dos dias de campo”, revela o diretor.

Segundo Dias, a Fazenda Experimental da Coamo em Dourados é referência na geração e validação de tecnologias agrícolas.

O compartilhamento de informações técnicas. "A Fazenda Experimental é referência em transferência de tecnologia, tanto para os cooperados como para os fornecedores e para a pesquisa de uma maneira geral."

O gerente de Assistência Técnica da Coamo, Marcelo Sumiya, destaca que o Encontro de Inverno é uma oportunidade para antecipar os desafios da próxima safra, com foco no sistema de produção envolvendo soja e milho segunda safra. Segundo ele, o evento aborda questões técnicas que exigem atenção dos cooperados, especialmente no manejo de pragas que costumam passar despercebidas. "Estamos tratando de microproblemas, como nematoides, mosca branca e tripes, que exigem uma percepção mais apurada por parte do cooperado. São insetos pequenos, mas com potencial para causar grandes prejuízos à produtividade."

Segundo ele, a presença da Fazenda Experimental no Mato Grosso do Sul tem ampliado a integração entre os trabalhos realizados na região e no Paraná. "Essa sinergia entre as estações permite antecipar problemas e desenvolver soluções mais específicas para cada realidade", afirma. Sumiya cita como exemplo uma experiência recente. "Na safra passada, conseguimos adaptar no Paraná soluções testadas no Mato Grosso do Sul, com base em observações feitas durante nosso Encontro de Verão".

O impacto, segundo Sumiya, é direto na produtividade e sustentabilidade das propriedades. "Com um sistema de produção diverso, ter uma base de pesquisa na região garante que o cooperado receba orientações alinhadas à sua realidade. Estamos tratando desde a conservação do solo até o uso correto de tecnologias e defensivos. Tudo o que é recomendado pela equipe técnica foi antes testado em nossa estação de pesquisa", reforça.

O coordenador da Fazenda Experimental da Coamo em Dourados, Marcos Vinicios Garbiate, explica que a estrutura do evento foi pensada com base na realidade produtiva do Mato Grosso do Sul. "Buscamos sempre abordar as principais dificuldades do cooperado e apresentar soluções de uma forma bastante simples e prática."

Garbiate lembra que as estações são desenvolvidas para que os cooperados possam aplicar o conhecimento diretamente em sua área. "É o fruto do trabalho que vem sendo conduzido na Fazenda Experimental. O cooperado que tem aplicado o conhecimento disseminado nos eventos tem colhido bons frutos."

Aquiles Dias, diretor de Suprimentos e Assistência Técnica

Aquiles Dias, diretor de Suprimentos e Assistência Técnica

Marcelo Sumiya, gerente de Assistência Técnica

Marcelo Sumiya, gerente de Assistência Técnica

Marcos Vinicios Garbiate, coordenador da Fazenda Experimental no MS

Marcos Vinicios Garbiate, coordenador da Fazenda Experimental no MS

Mercado agrícola

Jeferson Souza, da Agrinvest, abordou o cenário atual e perspectiva para o mercado agrícola

Jeferson Souza, da Agrinvest, abordou o cenário atual e perspectiva para o mercado agrícola

Além das visitas às áreas de pesquisa, os participantes acompanharam a palestra "Cenário atual e perspectiva para o mercado agrícola", com Jeferson Souza, da Agrinvest. Durante a apresentação, Souza destacou a importância da continuidade na análise de mercado. "O mercado é extremamente dinâmico. Por isso, é fundamental mantermos a continuidade da informação", afirma.

Segundo Souza, o objetivo foi relembrar os principais pontos discutidos no encontro de dezembro e apresentar projeções para a próxima temporada, especialmente em um momento decisivo para o planejamento da safra 2025/2026.

Ao avaliar o atual cenário do mercado agrícola, o consultor ressalta que, apesar das incertezas enfrentadas no ano passado, o comportamento dos preços da soja tem sido relativamente estável. "Aquele risco de queda brusca nos preços ficou para trás. O dólar está colaborando, Chicago também, e o prêmio tem ajudado", explica.

Para o milho, no entanto, o momento exige atenção. A atual safra deve ser uma das maiores da história, o que pode pressionar os preços no curto prazo. "No final do ano, o cenário pode ser diferente, dependendo da demanda", diz o consultor.

Sobre as principais variáveis que influenciam o mercado, Souza aponta três pilares principais: geopolítica, clima e economia. "São fatores que impactam diretamente os fluxos de comércio e as cotações", afirma.

A demanda chinesa também foi tema da palestra. Segundo Jeferson Souza, o ritmo de crescimento da China tem sido mais lento nos últimos anos, o que deve ser monitorado pelos produtores brasileiros. "Hoje, 75% da soja brasileira exportada vai para um único destino, que é a China. No curto prazo, ela ainda tem fôlego, mas para os próximos 10 a 15 anos, é necessário repensar esse cenário", alerta.

Em relação aos custos da próxima safra, Souza observa que produtores de algumas regiões, como Mato Grosso do Sul e Paraná, conseguiram aproveitar boas oportunidades de compra. "O custo vem subindo semana após semana. A melhor maneira de mitigar isso é por meio da relação de troca. Essa é a ferramenta mais eficiente", destaca.

Souza lembra que o Mato Grosso do Sul enfrentou quebra nas últimas safras, mas que há sinais positivos com a atual safra de milho. "A perspectiva é boa. Mas, é essencial que o produtor esteja atento tanto aos custos quanto ao planejamento de venda", pontua.

Nitrogênio no sistema soja-milho: como otimizar o uso e melhorar os resultados

O nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas, sendo essencial especialmente para culturas como a soja e o milho. Ele participa da formação de proteínas, clorofila e enzimas, contribuindo diretamente para a fotossíntese e o desenvolvimento vegetativo. Entender o balanço de nitrogênio no sistema soja-milho é de suma importância para maximizar o potencial produtivo das culturas de forma economicamente sustentável.

O engenheiro agrônomo, José Eduardo Frandsen Filho, da Coamo em Maracaju, destaca que o manejo do nitrogênio deve considerar o sistema como um todo, e não apenas culturas isoladas. "Se o produtor faz a parte dele bem-feita na cultura da soja, ganha o benefício do nitrogênio para o milho", afirma.

A fixação biológica de nitrogênio pela soja, quando bem conduzida, contribui para a disponibilidade do nutriente no solo, favorecendo a cultura seguinte. A inoculação com bactérias específicas é uma das principais ferramentas utilizadas nesse processo. "A soja bem inoculada deixa um aporte de nitrogênio no solo que pode ser aproveitado pelo milho na sequência", explica Frandsen.

Na cultura do milho, além da adubação convencional, o uso de inoculantes e bactérias aplicadas via foliar tem se mostrado uma alternativa viável para incrementar a produtividade. O agrônomo ressalta que cada produtor, junto com o técnico responsável, deve analisar as condições do solo para definir a melhor estratégia de adubação. "O cooperado precisa entender o quanto de nitrogênio será necessário para melhorar o sistema produtivo. A partir disso, define-se o quanto será aportado via solo e o quanto virá da contribuição biológica", afirma.

João Aurélio Damião

JOÃO AURÉLIO DAMIÃO

Caarapó

É o segundo ano que participo do Encontro de Inverno, e voltei justamente porque considero esse evento muito importante. É uma oportunidade de observar as novidades de perto. Ver esses experimentos no campo é essencial para que eu possa pensar na próxima safra com mais segurança.

Julio Aparecido Lopes

JULIO APARECIDO LOPES

Bandeirantes

Aprendemos bastante no encontro. São várias tecnologias e ferramentas que ajudam no dia a dia da lavoura. Na safra passada, por exemplo, apliquei várias orientações que recebi aqui. Essas informações ajudam muito no planejamento das próximas safras. Participar de um evento como esse vale demais.

Cooperados observando experimentos de campo sobre nitrogênio

A avaliação do histórico de adubação também é essencial. Solos que vêm recebendo adubação correta ao longo dos anos tendem a ter mais disponibilidade de nitrogênio. "É preciso analisar o solo, a adubação ao longo dos anos e a integração entre as culturas", diz Frandsen.

Segundo ele, a continuidade no uso das ferramentas biológicas é fundamental. A inoculação deve ser feita anualmente, tanto na soja quanto no milho. "Não adianta fazer em um ano e deixar de lado no outro. É um processo contínuo, que visa enriquecer o sistema solo ao longo do tempo", observa.

As condições climáticas do Mato Grosso do Sul tornam ainda mais relevante esse planejamento. O milho safrinha, por ser implantado em clima mais adverso do que a soja, exige um preparo adequado para enfrentar estresses hídricos e térmicos. A sucessão entre soja e milho já é uma prática consolidada no Estado e a integração entre as culturas e o bom manejo do nitrogênio representam uma oportunidade para aumentar a eficiência do sistema produtivo. "O que se faz em uma safra influencia diretamente no resultado da outra", conclui.

Técnicos e cooperados durante apresentação sobre manejo de nitrogênio

Hugo Lorran de Melo Rocha (São Gabriel do Oeste), José Petruise Ferreira Junior (Campo Mourão), Jose Eduardo Frandsen Filho (Maracaju), Ronaldo Lopes Costa (Bandeirantes) e Enrique Gabriel Gimenes Gonçalves (Sidrolândia)

A adubação nitrogenada no sistema soja-milho deve ser pensada de forma integrada, considerando as contribuições de cada cultura e o balanço de nutrientes no solo. É o que defende o pesquisador da Embrapa Soja, Fábio Alvares de Oliveira, especialista em fertilidade do solo e nutrição de plantas. Para ele, o caminho para a eficiência está na compreensão da complementação entre as culturas.

A soja, por meio da fixação biológica de nitrogênio, realiza um grande aporte do nutriente ao sistema. Já o milho é mais dependente da adubação com fertilizantes minerais. "Se a gente avaliar corretamente a transferência de nutrientes da biomassa, da palhada, de uma cultura para a subsequente, podemos otimizar a adubação para garantir máxima eficiência técnica e econômica", explica Oliveira.

O pesquisador orienta que o produtor considere a demanda da cultura para definir a adubação com nitrogênio, atendendo pelo menos a exportação estimada de nutrientes. Segundo ele, o ideal é realizar adubações em duas etapas: semeadura e cobertura. Isso permite que o nitrogênio, elemento de alta mobilidade no solo, esteja disponível conforme a necessidade da planta.

Fábio Alvares de Oliveira, da Embrapa Soja

Fábio Alvares de Oliveira, da Embrapa Soja

"Queremos que o agricultor não gere sistemas de produção muito negativos em nitrogênio, porque isso vai comprometer a longo prazo a saúde do solo. Para alcançar esse equilíbrio, é preciso contabilizar corretamente o que o sistema está devolvendo ao solo, reduzindo ou ajustando a dose a ser aplicada na cultura seguinte."

Oliveira também destaca a importância de ferramentas para auxiliar o monitoramento e o ajuste da adubação no campo, mas adianta que a melhor forma é o agricultor olhar para o desenvolvimento da soja para definir a adubação do milho. "Uma soja bem conduzida entrega mais nitrogênio ao sistema do que uma planta com desenvolvimento restrito", ressalta. O pesquisador reforça que o sistema deve ser visto como um processo contínuo e interligado.

Tihago Dalbosco

TIHAGO DALBOSCO

Laguna Carapã

É sempre um prazer participar do Encontro de Inverno da Coamo, principalmente pela qualidade do evento. Aqui, a informação é verdadeira, sem viés comercial. É um contato direto com o produtor. A gente consegue ver, comparar e conversar sobre todos os experimentos de forma muito organizada. É uma experiência visual e prática que faz diferença.

Valdecir Ventura Sobrinho

VALDECIR VENTURA SOBRINHO

Rio Brilhante

O Encontro de Inverno traz novidades e tecnologias que estão dentro da nossa realidade. Então, contar com esse apoio da cooperativa faz toda a diferença. É bom ver que a Coamo acredita no produtor, continua investindo e trazendo informação de qualidade. Isso mostra o compromisso com a gente.

Mancha de bipolaris no milho: sintomas, identificação e alternativas de manejo

Cooperados observando plantas de milho com sintomas de mancha de bipolaris

A mancha de Bipolaris, causada pelo fungo Bipolaris maydis, é uma das principais doenças que afeta a cultura do milho. Em condições favoráveis, a doença pode se espalhar rapidamente, comprometendo a fotossíntese e, consequentemente, reduzindo o rendimento da lavoura. O controle eficaz exige a adoção de um manejo integrado, que combina diferentes estratégias para reduzir a incidência e a severidade da doença.

Entre as principais práticas estão o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas, o manejo adequado dos restos culturais, como a palhada, e a aplicação criteriosa de fungicidas, baseada no monitoramento da lavoura.

De acordo com o engenheiro agrônomo, João Carlos Bonani, coordenador da Fazenda Experimental da Coamo em Campo Mourão, a doença tem chamado a atenção nos últimos meses pela incidência precoce. "É uma doença necrotrófica que permanece nos restos culturais da safra anterior e pode iniciar os sintomas ainda nas primeiras folhas do milho, com três a cinco folhas desenvolvidas", afirma.

A mancha apresenta características visuais distintas, como coloração que varia do marrom-cinzento ao amarelo, com formato irregular, geralmente nas folhas mais baixas da planta. A identificação correta é essencial para o manejo eficaz.

Bonani destaca que a mancha de Bipolaris se desenvolve com mais intensidade em condições de temperaturas elevadas, entre 20 °C e 32 °C, associadas a chuvas fortes no início do ciclo da cultura. "Nessas condições, os esporos presentes no solo são transportados pelos respingos de chuva até as folhas inferiores da planta, iniciando a infecção."

A resistência genética das cultivares é um dos pilares mais importantes no controle da doença. Segundo o engenheiro agrônomo, há híbridos com tolerância à mancha de Bipolaris, mas muitos híbridos ainda utilizados nas lavouras apresentam sensibilidade à doença. "Quando não se conta com a resistência genética, torna-se essencial utilizar os outros pilares de manejo: cultural e químico", ressalta Bonani.

Segundo ele, o manejo químico deve estar associado ao monitoramento constante da lavoura. "Se tem um híbrido sensível, plantado sobre palhada de milho da safra anterior, em condições climáticas favoráveis à doença, é preciso iniciar o controle mais cedo", explica. Bonani acrescenta que, nesses casos, as aplicações podem começar a partir do estádio V4, se houver sintomas, ou de forma preventiva por volta de V8.

Técnicos explicando sintomas da mancha de bipolaris

Tassiano Botesini de Araujo (Maracaju), Wagner Henrique de Borba Bini (Amambai), João Carlos Bonani (Campo Mourão), Juliano Seganfredo (Engenheiro Beltrão) e Marcio Rech (Ponta Porã)

Os grupos de fungicidas mais utilizados para o controle da mancha de Bipolaris são os triazóis e as carboxamidas. No entanto, Bonani alerta que nem todas as moléculas desses grupos têm a mesma eficácia contra a doença. "A escolha correta do produto e do momento de aplicação faz diferença nos resultados."

A recomendação é que os cooperados consultem a equipe técnica da cooperativa para definir o programa de fungicidas mais adequado a cada realidade. O sucesso do manejo está na combinação das estratégias. "Não é uma única ação que resolve o problema. É um conjunto de ações que permite o controle eficiente e sustentável da doença ao longo do ciclo da cultura", conclui Bonani.

Diagnóstico físico do solo: como avaliar a estrutura e melhorar o ambiente de produção

Um solo fisicamente equilibrado permite que as plantas expressem todo potencial produtivo, reduzindo o estresse hídrico e nutricional, mesmo em condições climáticas adversas. Por outro lado, solos compactados ou mal estruturados limitam o crescimento radicular, aumentam o escoamento superficial e reduzem a eficiência do uso de insumos.

Por isso, o monitoramento dos atributos físicos do solo é essencial. Avaliações periódicas por meio de ferramentas como o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES) e penetrômetros podem auxiliar na identificação de alterações causadas pelo manejo, como a compactação por tráfego de máquinas, e permitem a adoção de práticas corretivas, como o uso de plantas de cobertura, escarificação ou ajustes no sistema de plantio.

Vista aérea dos experimentos na Fazenda Experimental

De acordo com o engenheiro agrônomo, Flávio Emilio Pizzigatti, da Coamo em Dourados, a avaliação da qualidade física do solo deve ser constante. "Avaliamos a qualidade física e biológica do solo. A física está relacionada à resistência, penetração e formação de agregados mais coesos. Já a biológica, à presença de macro e microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica."

Ferramentas como o DRES, desenvolvido pela Embrapa, e equipamentos como o penetrômetro ajudam a medir a resistência do solo à penetração e permitem identificar problemas estruturais. "O penetrômetro pode alcançar até 60 centímetros de profundidade. Esses dados auxiliam na tomada de decisão sobre a necessidade de intervenções", explica.

O manejo correto do solo é ainda mais importante em regiões como o Mato Grosso do Sul, onde períodos de estiagem são comuns no final do ano. Segundo Pizzigatti, muitas vezes a solução não está na intervenção mecânica. "A intervenção mecânica deve ser o último recurso. A introdução de espécies com sistemas radiculares mais agressivos, como a braquiária, já mostrou bons resultados em áreas com compactação", revela.

O engenheiro agrônomo destaca que práticas como o plantio direto, a rotação de culturas e a cobertura do solo ao longo do ano ajudam a prevenir a compactação. "Quanto menor for o revolvimento do solo, melhor será a estrutura. A movimentação excessiva aumenta a pulverização do solo, o que contribui para a compactação."

Além dos aspectos físicos, a fertilidade do solo depende das condições químicas e biológicas. "Muitos solos já apresentam equilíbrio químico, mas a produtividade também está ligada à qualidade biológica e física", afirma Pizzigatti.

O uso de plantas de cobertura e a manutenção da matéria orgânica contribuem para a melhoria dessas características. O aumento da matéria orgânica influencia a capacidade de correção e a saúde do solo, especialmente nas camadas mais profundas. "Raízes em profundidade melhoram a retenção de água e a estrutura dos agregados", comenta.

Pizzigatti reforça a importância de se investir na saúde do solo como um todo. "O solo é a base de tudo. Não adianta usar o melhor fertilizante ou a melhor genética se o solo estiver deficiente. É preciso cuidar do equilíbrio químico, físico e biológico para enfrentar os veranicos e manter a produtividade."

O pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja, destaca dois métodos principais para avaliar a qualidade estrutural do solo. O primeiro é a resistência mecânica à penetração, realizada com o uso de penetrômetro. "Quanto maior a força necessária para inserir o equipamento no solo, maior é o grau de compactação", explica. Ele alerta que a interpretação correta dos resultados é essencial. Medidas feitas com o solo seco naturalmente indicam mais resistência, o que pode não representar um problema estrutural. "Muitas raízes aumentam a resistência do solo ao penetrômetro, mas isso não significa que o solo está compactado."

O segundo método é o DRES que consiste na retirada de uma amostra com uma pá reta entre 0 e 25 cm de profundidade. Os torrões são avaliados quanto ao tamanho e a aparência. Agregados muito grandes e lisos indicam compactação. Já o solo excessivamente pulverizado pode ter sofrido degradação por pulverização intensa. "Os dois métodos podem ser utilizados de forma complementar", sugere Debiasi.

Henrique Debiasi, da Embrapa Soja

Henrique Debiasi, da Embrapa Soja

Técnicos da Fazenda Experimental

Hayan Fernando de Oliveira (Rio Brilhante), Roberto Bueno (Campo Mourão), Flavio Emilio Pizzigatti (Dourados) e Doglas Candido Braga (Sidrolândia)

Com base no diagnóstico, o uso de plantas de cobertura tem se mostrado uma estratégia eficiente e viável para a melhoria da estrutura do solo. As raízes dessas plantas criam bioporos durante o crescimento, que permanecem no solo após a decomposição. "Esses canais facilitam o crescimento das raízes da soja e do milho em profundidade e ajudam na infiltração e armazenamento da água", explica o pesquisador.

Além disso, as plantas de cobertura contribuem para manter a superfície protegida com palhada, o que reduz a evaporação da água e controla a temperatura do solo. "Cada tonelada de palha na superfície reduz em 6% a perda de água por evaporação. Com seis toneladas por hectare, temos uma redução de quase 40%", exemplifica Debiasi.

Para inserir as plantas de cobertura no sistema, existem alternativas que se adaptam à realidade de cada produtor. Uma delas é o consórcio com o milho, como no sistema já conhecido milho + braquiária. Outra opção é a rotação planejada. "Recomenda-se destinar de 25 a 33% da área para a cultura de cobertura, rotacionando de modo que, em três ou quatro anos, toda a área tenha recebido essa prática." Entre as espécies mais utilizadas estão braquiárias, crotalárias, milheto e sorgo forrageiro.

Tripes e mosca branca: Estratégias para manejo de pragas emergentes na cultura da soja

Nos últimos anos, pragas emergentes como tripes e a mosca-branca têm ganhado destaque nas lavouras de soja, exigindo atenção redobrada dos produtores e técnicos. Antes consideradas secundárias, essas pragas vêm aumentando sua presença e impacto econômico, impulsionadas por mudanças no clima, intensificação dos sistemas produtivos e uso desequilibrado de defensivos agrícolas. Reconhecer e manejar precocemente estas pragas é prática essencial para evitar perdas significativas e garantir a sustentabilidade da produção de soja. O sucesso no controle está na ação preventiva, integrada e baseada em informação técnica de qualidade.

De acordo com o engenheiro agrônomo, Bruno Lopes Paes, analista de Suporte Técnico da Coamo, a tripes e a mosca-branca não são pragas novas, mas vêm se tornando mais frequentes. "Nos últimos anos, temos observado uma recorrência em determinadas regiões do Estado", afirma.

Segundo o agrônomo, o clima tem papel central nessa dinâmica. A ocorrência de temperaturas elevadas e déficit hídrico tem favorecido a proliferação desses insetos. O reconhecimento precoce dessas pragas é uma das principais estratégias para reduzir perdas. Paes destaca a importância do monitoramento constante das lavouras. "Cabe aos engenheiros agrônomos e cooperados realizarem esse trabalho de campo. São insetos pequenos, difíceis de identificar a olho nu, mas com uso de ferramentas simples e orientação técnica é possível detectar a presença a tempo de agir."

Quanto ao controle químico, o uso adequado dos inseticidas é um dos desafios. A recomendação é rotacionar ingredientes ativos e mecanismos de ação. "É fundamental usar produtos específicos para cada praga e evitar aplicações genéricas que não garantem eficácia e ainda favorecem a seleção de resistência", reforça Paes.

Participantes do evento sobre manejo de pragas emergentes

Além do controle químico, práticas culturais e biológicas podem auxiliar no manejo. Uma delas é a rotação de culturas durante a safra de inverno. A introdução de culturas menos suscetíveis pode reduzir a população das pragas no solo. "Essa prática contribui para diminuir a pressão inicial na cultura da soja", aponta o agrônomo. Segundo Paes, o manejo deve considerar o sistema de produção como um todo. "Planejar a lavoura com antecedência, integrando estratégias químicas, biológicas e culturais, é essencial para reduzir o impacto dessas pragas", ressalta.

Segundo a líder de Pesquisa da Corteva Agriscience, Cristiane Muller, o aumento da incidência está diretamente ligado às mudanças climáticas, especialmente aos períodos mais secos. "Climas mais secos propiciam um desenvolvimento melhor dessas pragas", explica.

Mesmo sendo de tamanho reduzido, os insetos causam prejuízos expressivos. Cristiane destaca a importância do monitoramento desde o início do ciclo da cultura. "Entrar quando a população dessas pragas ainda está baixa é o momento ideal para que a gente tenha um melhor custo-benefício e proteja a lavoura".

Cristiane Muller, da Corteva

Cristiane Muller, da Corteva

Equipe técnica da Corteva e Coamo

Sabrina Ongaratto (Corteva), Cristiane Muller (Corteva), Bruno Lopes Paes (Campo Mourão), Sidivan Loop (Laguna Carapã) e Kaio Roberto Conceição Cardoso (Rio Brilhante)

Uma das dificuldades relatadas é o reconhecimento precoce dessas pragas no campo. Por serem pequenas, muitas vezes passam despercebidas. "O produtor precisa colocar um olhar mais próximo a essas pragas. O apoio técnico é essencial nesse processo. "Apesar de no campo algumas dessas espécies serem difíceis de distinguir, muitas vezes uma contagem ou uma foto permite ao agrônomo fazer uma recomendação mais assertiva", alerta a pesquisadora.

Outro ponto de atenção é a rápida reprodução. Em cerca de duas semanas, já há uma nova geração. Em algumas situações, uma única fêmea pode gerar descendentes sem a presença do macho, o que acelera ainda mais o processo. Isso aumenta o risco de seleção de indivíduos resistentes, principalmente quando o manejo é feito de forma inadequada. "Essas pragas podem desenvolver resistência mais rapidamente que outros insetos", afirma Cristiane.

O manejo deve ser feito com integração de estratégias. A rotação de mecanismos de ação de produtos e a adoção de práticas culturais contribuem para a eficácia do controle e ajudam a preservar as ferramentas disponíveis. "Entre as estratégias recomendadas, o uso de produtos mais seletivos tem se mostrado eficiente, por preservar os inimigos naturais das pragas. A presença desses predadores contribui para manter as populações abaixo do nível de dano. Para garantir rentabilidade, a orientação é clara: monitoramento constante, entrada no momento adequado e integração de práticas de manejo", pontua Cristiane.

Técnicos analisando nematoides no campo

Equipe técnica da Coamo

Rafaela Bueno Loreto (Simbiose), Lucas Gouvea Vilela Esperandino (Campo Mourão), Diogo Knorr (Aral Moreira), Mônica Caldeira (Dourados) e Elvison Alves da Cruz (Itaporã)

Fitonematoides no MS: ocorrência, distribuição e manejo

Os nematoides fitoparasitas são uma das principais ameaças silenciosas à produtividade agrícola. Esses organismos microscópicos vivem no solo e atacam as raízes das plantas, interferindo na absorção de água e nutrientes, provocando sintomas como murcha, amarelecimento, atraso no desenvolvimento e, em casos severos, morte das plantas.

Embora muitas vezes passem despercebidos, os prejuízos causados pelos nematoides podem ser expressivos, especialmente em culturas de alto valor como soja e milho. O manejo dos nematoides deve ser preventivo e integrado, combinando práticas como o uso de cultivares resistentes ou tolerantes, rotação de culturas com espécies não hospedeiras, adição de matéria orgânica, uso de agentes biológicos de controle e aplicação de nematicidas quando necessário.

O engenheiro agrônomo, Lucas Gouvea Vilela Esperandino, coordenador de Suporte Técnico da Coamo, destaca que muitas vezes o cooperado desconhece essa problemática dos nematoides nos talhões. Quatro espécies de nematoides têm sido mais frequentemente identificadas na região do MS: o Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares), o Meloidogyne spp. (nematoide das galhas), o Heterodera glycines (nematoide de cisto), e o Rotylenchulus reniformis, mais comum no cultivo do algodão. "O foco da estação foi apresentar aos cooperados as principais estratégias de manejo", explica Lucas.

Esperandino enfatiza que o controle dos nematoides deve ser preventivo e baseado em um conjunto de práticas. Entre estas, estão a escolha de cultivares resistentes ou tolerantes, uso de controle biológico com fungos e bactérias, tratamento químico quando necessário, e principalmente a diversificação de culturas na entressafra. “A estratégia cultural é fundamental para reduzir a população de nematoides no solo”, reforça.

Com o avanço do monocultivo e da sucessão de culturas como soja e milho segunda safra, o problema tende a se intensificar. Ambas as culturas apresentam alto fator de reprodução para os nematoides, o que contribui para o crescimento populacional desses organismos de uma safra para outra.

No campo, os sintomas mais comuns começam com a formação de reboleiras. As plantas nessas áreas apresentam desenvolvimento desuniforme, redução de porte e, em alguns casos, folhas com aspecto de carijó – necrose característica de determinadas espécies de nematoides. Para a confirmação, é recomendada a coleta de amostras de solo e raízes, preferencialmente na camada de 0 a 20 cm, e envio ao laboratório. "É importante fazer uma análise bem-feita para um diagnóstico preciso. O manejo eficaz depende do conhecimento técnico, planejamento e acompanhamento constante da lavoura. São várias estratégias que precisam ser integradas para minimizar os impactos no campo", orienta Esperandino.

O pesquisador, Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste, explica que a abordagem mais eficaz envolve a integração de estratégias que considerem tanto a redução da população do patógeno quanto o fortalecimento da tolerância das plantas. "Existem dois enfoques principais para o manejo: um deles é atacar diretamente o nematoide; o outro criar um ambiente favorável para que a planta tolere sua presença", afirma Asmus.

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

Segundo ele, é comum que o produtor opte inicialmente pelo combate ao organismo, buscando reduzir sua população com o uso de defensivos ou agentes de controle. No entanto, essa estratégia precisa ser combinada com ações que promovam o equilíbrio físico, químico e biológico do solo. Além disso, é necessário corrigir problemas estruturais no solo, como compactação e desequilíbrios nutricionais, para favorecer o desenvolvimento radicular das plantas. "É muito difícil erradicar o nematoide porque ele faz parte do sistema do solo. O que se busca é conviver com ele da melhor forma possível, minimizando os prejuízos", explica o pesquisador.

Nesse contexto, o uso de agentes biológicos tem ganhado espaço no manejo integrado. Esses microrganismos, quando bem manejados, contribuem para o controle das populações de nematoides no solo. "As soluções biológicas têm mostrado potencial, mas precisam de suporte. É necessário associá-las a práticas como o uso de palhadas e culturas de cobertura, que proporcionam um ambiente mais favorável à ação desses organismos", destaca Asmus.

A detecção precoce do problema é outro ponto crucial. Em caso de suspeita, é fundamental realizar coletas de solo e raízes e encaminhar o material a um laboratório especializado. "Uma vez identificada a presença de nematoides, o produtor deve buscar recomendação técnica qualificada para definir a melhor estratégia de manejo. Pensar no sistema como um todo é essencial. Uma ferramenta isolada dificilmente resolverá um problema tão complexo como o dos nematoides", conclui o pesquisador.

Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste

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