Airton Galinari, presidente Executivo da Coamo
A segunda edição do Encontro de Inverno na Fazenda Experimental da Coamo, realizada nos dias 4 e 5 de junho em Dourados (MS), reuniu cooperados, profissionais da cooperativa e representantes de empresas parceiras, para um amplo intercâmbio de informações técnicas voltadas à produção agrícola.
O encontro reforça o papel da Fazenda Experimental como espaço de pesquisa aplicada, orientação técnica e transferência de conhecimento para apoiar o desenvolvimento das lavouras dos cooperados do Mato Grosso do Sul. O presidente Executivo da Coamo, Airton Galinari, destaca a importância estratégica da fazenda para a cooperativa e os cooperados. “É uma alegria promover esse evento em Mato Grosso do Sul. Era um sonho que virou realidade para o cooperado e para a Coamo.”
Segundo Galinari, a presença dos cooperados no encontro reforça o objetivo da Coamo de promover a cultura da informação técnica. “É importante que os cooperados participem para aproveitar tudo aquilo que é oferecido de informação e tecnologia.”
Durante o evento, eles conheceram como a Coamo realiza as pesquisas em parceria com instituições, com foco na validação de tecnologias agrícolas. O trabalho envolve a avaliação das práticas agrícolas para subsidiar as recomendações feitas pela equipe técnica da cooperativa. “Na Fazenda Experimental, tiramos esse risco dela. A Coamo só oferece tecnologias comprovadas.”
O diretor de Suprimentos e Assistência Técnica da Coamo, Aquiles de Oliveira Dias, destaca o compromisso da cooperativa com a transferência de conhecimento e a capacitação contínua das equipes e dos cooperados. “Nós temos toda uma equipe técnica que está junto do cooperado levando essas informações”, afirma.
A estrutura da pesquisa da Coamo inclui três fazendas experimentais: Campo Mourão (PR), Dourados (MS) e Mangueirinha (PR). Juntas, somam cerca de 270 ensaios conduzidos por ano. “É muito importante que essas informações cheguem até os cooperados, e a forma que temos de fazer isso é treinando a equipe e trazendo os cooperados para participar dos dias de campo”, revela o diretor.
Segundo Dias, a Fazenda Experimental da Coamo em Dourados é referência na geração e validação de tecnologias agrícolas.
O compartilhamento de informações técnicas. "A Fazenda Experimental é referência em transferência de tecnologia, tanto para os cooperados como para os fornecedores e para a pesquisa de uma maneira geral."
O gerente de Assistência Técnica da Coamo, Marcelo Sumiya, destaca que o Encontro de Inverno é uma oportunidade para antecipar os desafios da próxima safra, com foco no sistema de produção envolvendo soja e milho segunda safra. Segundo ele, o evento aborda questões técnicas que exigem atenção dos cooperados, especialmente no manejo de pragas que costumam passar despercebidas. "Estamos tratando de microproblemas, como nematoides, mosca branca e tripes, que exigem uma percepção mais apurada por parte do cooperado. São insetos pequenos, mas com potencial para causar grandes prejuízos à produtividade."
Segundo ele, a presença da Fazenda Experimental no Mato Grosso do Sul tem ampliado a integração entre os trabalhos realizados na região e no Paraná. "Essa sinergia entre as estações permite antecipar problemas e desenvolver soluções mais específicas para cada realidade", afirma. Sumiya cita como exemplo uma experiência recente. "Na safra passada, conseguimos adaptar no Paraná soluções testadas no Mato Grosso do Sul, com base em observações feitas durante nosso Encontro de Verão".
O impacto, segundo Sumiya, é direto na produtividade e sustentabilidade das propriedades. "Com um sistema de produção diverso, ter uma base de pesquisa na região garante que o cooperado receba orientações alinhadas à sua realidade. Estamos tratando desde a conservação do solo até o uso correto de tecnologias e defensivos. Tudo o que é recomendado pela equipe técnica foi antes testado em nossa estação de pesquisa", reforça.
O coordenador da Fazenda Experimental da Coamo em Dourados, Marcos Vinicios Garbiate, explica que a estrutura do evento foi pensada com base na realidade produtiva do Mato Grosso do Sul. "Buscamos sempre abordar as principais dificuldades do cooperado e apresentar soluções de uma forma bastante simples e prática."
Garbiate lembra que as estações são desenvolvidas para que os cooperados possam aplicar o conhecimento diretamente em sua área. "É o fruto do trabalho que vem sendo conduzido na Fazenda Experimental. O cooperado que tem aplicado o conhecimento disseminado nos eventos tem colhido bons frutos."
Aquiles Dias, diretor de Suprimentos e Assistência Técnica
Marcelo Sumiya, gerente de Assistência Técnica
Marcos Vinicios Garbiate, coordenador da Fazenda Experimental no MS
Mercado agrícola
Jeferson Souza, da Agrinvest, abordou o cenário atual e perspectiva para o mercado agrícola
Além das visitas às áreas de pesquisa, os participantes acompanharam a palestra "Cenário atual e perspectiva para o mercado agrícola", com Jeferson Souza, da Agrinvest. Durante a apresentação, Souza destacou a importância da continuidade na análise de mercado. "O mercado é extremamente dinâmico. Por isso, é fundamental mantermos a continuidade da informação", afirma.
Segundo Souza, o objetivo foi relembrar os principais pontos discutidos no encontro de dezembro e apresentar projeções para a próxima temporada, especialmente em um momento decisivo para o planejamento da safra 2025/2026.
Ao avaliar o atual cenário do mercado agrícola, o consultor ressalta que, apesar das incertezas enfrentadas no ano passado, o comportamento dos preços da soja tem sido relativamente estável. "Aquele risco de queda brusca nos preços ficou para trás. O dólar está colaborando, Chicago também, e o prêmio tem ajudado", explica.
Para o milho, no entanto, o momento exige atenção. A atual safra deve ser uma das maiores da história, o que pode pressionar os preços no curto prazo. "No final do ano, o cenário pode ser diferente, dependendo da demanda", diz o consultor.
Sobre as principais variáveis que influenciam o mercado, Souza aponta três pilares principais: geopolítica, clima e economia. "São fatores que impactam diretamente os fluxos de comércio e as cotações", afirma.
A demanda chinesa também foi tema da palestra. Segundo Jeferson Souza, o ritmo de crescimento da China tem sido mais lento nos últimos anos, o que deve ser monitorado pelos produtores brasileiros. "Hoje, 75% da soja brasileira exportada vai para um único destino, que é a China. No curto prazo, ela ainda tem fôlego, mas para os próximos 10 a 15 anos, é necessário repensar esse cenário", alerta.
Em relação aos custos da próxima safra, Souza observa que produtores de algumas regiões, como Mato Grosso do Sul e Paraná, conseguiram aproveitar boas oportunidades de compra. "O custo vem subindo semana após semana. A melhor maneira de mitigar isso é por meio da relação de troca. Essa é a ferramenta mais eficiente", destaca.
Souza lembra que o Mato Grosso do Sul enfrentou quebra nas últimas safras, mas que há sinais positivos com a atual safra de milho. "A perspectiva é boa. Mas, é essencial que o produtor esteja atento tanto aos custos quanto ao planejamento de venda", pontua.
Nitrogênio no sistema soja-milho: como otimizar o uso e melhorar os resultados
O nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas, sendo essencial especialmente para culturas como a soja e o milho. Ele participa da formação de proteínas, clorofila e enzimas, contribuindo diretamente para a fotossíntese e o desenvolvimento vegetativo. Entender o balanço de nitrogênio no sistema soja-milho é de suma importância para maximizar o potencial produtivo das culturas de forma economicamente sustentável.
O engenheiro agrônomo, José Eduardo Frandsen Filho, da Coamo em Maracaju, destaca que o manejo do nitrogênio deve considerar o sistema como um todo, e não apenas culturas isoladas. "Se o produtor faz a parte dele bem-feita na cultura da soja, ganha o benefício do nitrogênio para o milho", afirma.
A fixação biológica de nitrogênio pela soja, quando bem conduzida, contribui para a disponibilidade do nutriente no solo, favorecendo a cultura seguinte. A inoculação com bactérias específicas é uma das principais ferramentas utilizadas nesse processo. "A soja bem inoculada deixa um aporte de nitrogênio no solo que pode ser aproveitado pelo milho na sequência", explica Frandsen.
Na cultura do milho, além da adubação convencional, o uso de inoculantes e bactérias aplicadas via foliar tem se mostrado uma alternativa viável para incrementar a produtividade. O agrônomo ressalta que cada produtor, junto com o técnico responsável, deve analisar as condições do solo para definir a melhor estratégia de adubação. "O cooperado precisa entender o quanto de nitrogênio será necessário para melhorar o sistema produtivo. A partir disso, define-se o quanto será aportado via solo e o quanto virá da contribuição biológica", afirma.
JOÃO AURÉLIO DAMIÃO
Caarapó
É o segundo ano que participo do Encontro de Inverno, e voltei justamente porque considero esse evento muito importante. É uma oportunidade de observar as novidades de perto. Ver esses experimentos no campo é essencial para que eu possa pensar na próxima safra com mais segurança.
JULIO APARECIDO LOPES
Bandeirantes
Aprendemos bastante no encontro. São várias tecnologias e ferramentas que ajudam no dia a dia da lavoura. Na safra passada, por exemplo, apliquei várias orientações que recebi aqui. Essas informações ajudam muito no planejamento das próximas safras. Participar de um evento como esse vale demais.
A avaliação do histórico de adubação também é essencial. Solos que vêm recebendo adubação correta ao longo dos anos tendem a ter mais disponibilidade de nitrogênio. "É preciso analisar o solo, a adubação ao longo dos anos e a integração entre as culturas", diz Frandsen.
Segundo ele, a continuidade no uso das ferramentas biológicas é fundamental. A inoculação deve ser feita anualmente, tanto na soja quanto no milho. "Não adianta fazer em um ano e deixar de lado no outro. É um processo contínuo, que visa enriquecer o sistema solo ao longo do tempo", observa.
As condições climáticas do Mato Grosso do Sul tornam ainda mais relevante esse planejamento. O milho safrinha, por ser implantado em clima mais adverso do que a soja, exige um preparo adequado para enfrentar estresses hídricos e térmicos. A sucessão entre soja e milho já é uma prática consolidada no Estado e a integração entre as culturas e o bom manejo do nitrogênio representam uma oportunidade para aumentar a eficiência do sistema produtivo. "O que se faz em uma safra influencia diretamente no resultado da outra", conclui.
Hugo Lorran de Melo Rocha (São Gabriel do Oeste), José Petruise Ferreira Junior (Campo Mourão), Jose Eduardo Frandsen Filho (Maracaju), Ronaldo Lopes Costa (Bandeirantes) e Enrique Gabriel Gimenes Gonçalves (Sidrolândia)
Mancha de bipolaris no milho: sintomas, identificação e alternativas de manejo
A mancha de Bipolaris, causada pelo fungo Bipolaris maydis, é uma das principais doenças que afeta a cultura do milho. Em condições favoráveis, a doença pode se espalhar rapidamente, comprometendo a fotossíntese e, consequentemente, reduzindo o rendimento da lavoura. O controle eficaz exige a adoção de um manejo integrado, que combina diferentes estratégias para reduzir a incidência e a severidade da doença.
Entre as principais práticas estão o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas, o manejo adequado dos restos culturais, como a palhada, e a aplicação criteriosa de fungicidas, baseada no monitoramento da lavoura.
De acordo com o engenheiro agrônomo, João Carlos Bonani, coordenador da Fazenda Experimental da Coamo em Campo Mourão, a doença tem chamado a atenção nos últimos meses pela incidência precoce. "É uma doença necrotrófica que permanece nos restos culturais da safra anterior e pode iniciar os sintomas ainda nas primeiras folhas do milho, com três a cinco folhas desenvolvidas", afirma.
A mancha apresenta características visuais distintas, como coloração que varia do marrom-cinzento ao amarelo, com formato irregular, geralmente nas folhas mais baixas da planta. A identificação correta é essencial para o manejo eficaz.
Bonani destaca que a mancha de Bipolaris se desenvolve com mais intensidade em condições de temperaturas elevadas, entre 20 °C e 32 °C, associadas a chuvas fortes no início do ciclo da cultura. "Nessas condições, os esporos presentes no solo são transportados pelos respingos de chuva até as folhas inferiores da planta, iniciando a infecção."
A resistência genética das cultivares é um dos pilares mais importantes no controle da doença. Segundo o engenheiro agrônomo, há híbridos com tolerância à mancha de Bipolaris, mas muitos híbridos ainda utilizados nas lavouras apresentam sensibilidade à doença. "Quando não se conta com a resistência genética, torna-se essencial utilizar os outros pilares de manejo: cultural e químico", ressalta Bonani.
Segundo ele, o manejo químico deve estar associado ao monitoramento constante da lavoura. "Se tem um híbrido sensível, plantado sobre palhada de milho da safra anterior, em condições climáticas favoráveis à doença, é preciso iniciar o controle mais cedo", explica. Bonani acrescenta que, nesses casos, as aplicações podem começar a partir do estádio V4, se houver sintomas, ou de forma preventiva por volta de V8.
Tassiano Botesini de Araujo (Maracaju), Wagner Henrique de Borba Bini (Amambai), João Carlos Bonani (Campo Mourão), Juliano Seganfredo (Engenheiro Beltrão) e Marcio Rech (Ponta Porã)
Os grupos de fungicidas mais utilizados para o controle da mancha de Bipolaris são os triazóis e as carboxamidas. No entanto, Bonani alerta que nem todas as moléculas desses grupos têm a mesma eficácia contra a doença. "A escolha correta do produto e do momento de aplicação faz diferença nos resultados."
A recomendação é que os cooperados consultem a equipe técnica da cooperativa para definir o programa de fungicidas mais adequado a cada realidade. O sucesso do manejo está na combinação das estratégias. "Não é uma única ação que resolve o problema. É um conjunto de ações que permite o controle eficiente e sustentável da doença ao longo do ciclo da cultura", conclui Bonani.
Diagnóstico físico do solo: como avaliar a estrutura e melhorar o ambiente de produção
Um solo fisicamente equilibrado permite que as plantas expressem todo potencial produtivo, reduzindo o estresse hídrico e nutricional, mesmo em condições climáticas adversas. Por outro lado, solos compactados ou mal estruturados limitam o crescimento radicular, aumentam o escoamento superficial e reduzem a eficiência do uso de insumos.
Por isso, o monitoramento dos atributos físicos do solo é essencial. Avaliações periódicas por meio de ferramentas como o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES) e penetrômetros podem auxiliar na identificação de alterações causadas pelo manejo, como a compactação por tráfego de máquinas, e permitem a adoção de práticas corretivas, como o uso de plantas de cobertura, escarificação ou ajustes no sistema de plantio.
De acordo com o engenheiro agrônomo, Flávio Emilio Pizzigatti, da Coamo em Dourados, a avaliação da qualidade física do solo deve ser constante. "Avaliamos a qualidade física e biológica do solo. A física está relacionada à resistência, penetração e formação de agregados mais coesos. Já a biológica, à presença de macro e microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica."
Ferramentas como o DRES, desenvolvido pela Embrapa, e equipamentos como o penetrômetro ajudam a medir a resistência do solo à penetração e permitem identificar problemas estruturais. "O penetrômetro pode alcançar até 60 centímetros de profundidade. Esses dados auxiliam na tomada de decisão sobre a necessidade de intervenções", explica.
O manejo correto do solo é ainda mais importante em regiões como o Mato Grosso do Sul, onde períodos de estiagem são comuns no final do ano. Segundo Pizzigatti, muitas vezes a solução não está na intervenção mecânica. "A intervenção mecânica deve ser o último recurso. A introdução de espécies com sistemas radiculares mais agressivos, como a braquiária, já mostrou bons resultados em áreas com compactação", revela.
O engenheiro agrônomo destaca que práticas como o plantio direto, a rotação de culturas e a cobertura do solo ao longo do ano ajudam a prevenir a compactação. "Quanto menor for o revolvimento do solo, melhor será a estrutura. A movimentação excessiva aumenta a pulverização do solo, o que contribui para a compactação."
Além dos aspectos físicos, a fertilidade do solo depende das condições químicas e biológicas. "Muitos solos já apresentam equilíbrio químico, mas a produtividade também está ligada à qualidade biológica e física", afirma Pizzigatti.
O uso de plantas de cobertura e a manutenção da matéria orgânica contribuem para a melhoria dessas características. O aumento da matéria orgânica influencia a capacidade de correção e a saúde do solo, especialmente nas camadas mais profundas. "Raízes em profundidade melhoram a retenção de água e a estrutura dos agregados", comenta.