Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 527 | Agosto de 2022 | Campo Mourão - Paraná

SISTEMA INTEGRADO

No caminho da sustentabilidade

João Soares Barcarol e o genro Willian Ferreira Sehaber, cooperados em Luiziana (PR)

Defensor de uma agropecuária sustentável e rentável, João Soares Barcarol e o genro Willian Ferreira Sehaber, cooperados em Luiziana (Centro-Oeste do Paraná), se utilizam dos benefícios de colher na mesma área grãos e boi gordo. O sistema que integra a lavoura com a pecuária já vem sendo adotado há alguns anos. Com a prática, além de elevar o número de animais na área, há uma melhora no desempenho do rebanho, já que a pastagem fica mais nutritiva, pois aproveita todo nutriente deixado pela agricultura.

Barcarol explica que a integração surgiu com a necessidade de alimentar os bovinos durante o período mais frio do ano. Com o sistema, ele consegue integrar a produção das áreas e observa que a prática ajudou a melhorar o sistema produtivo. No caso dos animais, há um ganho de peso, e fertilidade nas vacas. Na propriedade é desenvolvido o processo de cria. “O inverno é um período em que a alimentação fica mais escassa, podendo até faltar pasto para o gado que fica fraco, causando prejuízo. Temos que nos prevenir e a melhor opção é cultivar aveia para alimentação dos animais.”

João Barcarol, Willian Sehaber e o médico veterinário Fabiano Camargo. Sistema possibilita integrar a produção de grãos e criação de gado numa mesma área

Neste ano, foram cultivados cerca de 80 alqueires de aveia destinados para abrigar os animais. Já a área de pastagem perene é de 280 alqueires e receberá os animais depois que desocuparem o local com aveia para o plantio da soja. Em toda propriedade serão cultivados um total de 300 alqueires de soja.

Willian observa que o modelo adotado na propriedade é benéfico para todo o sistema. “Fazemos esse rodízio no inverno, com o gado sendo alimentado na aveia e nas demais áreas temos a rotação com o trigo e mais aveia para cobertura do solo, que servirá de suplementação na alimentação dos animais. Essa diversificação proporciona um sistema mais equilibrado. A rotação das plantas e a mudança de manejo trazem importantes benefícios. A integração entre lavoura e pecuária vem trazendo um bom resultado, já que o gado tem um ganho de peso nesse período e sem essa área de aveia, seria mais difícil manter essa quantidade de animais no inverno”, diz.

Após retirar o gado, a área ficará em torno de 40 dias em pousio para depois receber o manejo necessário e ser preparada para o plantio da soja, previsto para iniciar a partir da segunda quinzena de outubro. O médico veterinário Fabiano Camargo, da Coamo, explica que a integração lavoura pecuária é um sistema benéfico porque deixa uma boa matéria orgânica na área, melhorando a parte biológica do solo e, também, a produção das lavouras de verão. “A integração beneficia a pecuária e a agricultura. No caso do gado, é uma opção para melhorar o desempenho dos animais no inverno. Se ficassem somente na pastagem perene poderiam perder peso”, comenta.

Camargo explica que o grande problema para quem trabalha com a pecuária é o período do inverno. “Todo pecuarista tem a obrigação de se preparar para essa época, que é mais seca e, geralmente, falta pastagem para os animais. Isso faz com que o gado que engordou no verão perca peso, o ‘efeito sanfona’, como chamamos. O plantio de outra cultura, como a aveia e azevém, por exemplo, faz com que os animais não passem fome e continuem engordando”, observa.

Na propriedade do cooperado Antonio Irineu Trentin, em Itaporã (Mato Grosso do Sul), a integração lavoura-pecuária foi implantada há cerca de três anos e surgiu pela necessidade de uma nova opção de renda e melhoria no sistema de produção. A área fica na região do Carumbé e soma 160 hectares de plantio de lavoura e 36 de pasto perene. Com a integração são criados cerca de 105 cabeças de gado da raça senepol. O cooperado está no Mato Grosso do Sul há 15 anos. Antes ele residia em Val Paraíso (SP), onde trabalhava com gado de leite.

Até 2018 ele trabalhava exclusivamente com a pecuária e a conciliação entre as duas atividades está trazendo ganhos, não só na parte financeira, mas para o sistema de produção, que está mais equilibrado. “A agricultura que conhecia era o plantio de milho para a produção de silagem. Com a mudança, estamos plantando soja no verão e braquiária no inverno para pastagem de animais. As duas últimas safras de verão não foram boas devido a falta de chuva e, por isso, ainda não conseguimos consolidar os dados de produtividade. Mas, acredito que teremos uma melhoria também na produção de soja, devido aos investimentos realizados em adubação, tanto no inverno quanto no verão”, diz.

Os animais que estão na área de braquiária serão retirados em setembro para dar lugar a soja. O gado será levado para outro local com pastagem perene e receberão também alimentação suplementar com silagem. “Antes de fazer a integração, faltava alimento para o gado e agora estamos tendo até sobra de comida e os animais ganhando peso. Com o apoio da Coamo e da Credicoamo estamos realizando novos investimentos, para deixar o sistema produtivo ainda mais sustentável”, observa Trentin.

O engenheiro agrônomo Elvison Alves da Cruz, da Coamo em Itaporã, ressalta que para a integração lavoura pecuária é importante um bom planejamento. “É uma prática que visa além da rotação de cultura a diversificação de manejos, onde podemos ter a preservação de tecnologias para manejo de pragas e doenças, assim como aumento na biomassa que diretamente auxilia na reciclagem de nutrientes e obtenção de lucros na diversificação, assim como ganhos diretos no manejo de pragas e doenças”, diz.

Ele ressalta que no caso do seu Irineu, o primeiro passo foi visualizar como estava a estrutura química do solo, por meio de uma boa análise com a agricultura de precisão da Coamo. “Diante dos resultados, foram realizadas as correções necessárias. Outro ganho visível é o manejo de plantas daninhas que se torna muito mais cômodo, por ter uma diminuição considerável de banco de sementes. Outro benefício foi o aumento dos teores de matéria orgânica. Há três anos os teores médios eram de cerca de 3,5%, e hoje após uma reanalise, estão em cerca de 4,75 % no mesmo local. Um grande avanço quando comparado com os sistemas convencionais que podem levar até cerca de seis a dez anos”, explica Cruz.

Cooperado Antonio Irineu Trentin e o agrônomo Elvison Alves da Cruz acompanham área com braquiária que serviu de alimento para o gado no inverno. No verão, local receberá plantio de soja

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