RC: O que tem percebido das reações dos visitantes ao Memorial Coamo?
Gracieli: Os grupos que pude acompanhar demonstraram surpresa durante a visita, pois não esperavam que o espaço tivesse tantas opções e fosse amplo a ponto de apresentar tantas informações. Além da qualidade em relação ao conteúdo, os visitantes destacam a interatividade que o Memorial oferece, possibilitando informações que estão além do espaço físico local. Percebo também que a forma como o espaço foi organizado possibilita que o visitante perceba a linha evolutiva e cronológica da cooperativa, partindo dos primeiros registros da história local até reflexões sobre o futuro da sociedade.
RC: Como foi a experiência de conhecer a história e o cooperativismo da Coamo?
Gracieli: Eu, como filha de agricultores, produtora rural e vinculada a cooperativas na região de Cascavel sempre ouvi falar da Coamo como referência no cooperativismo. Com a oportunidade de participar da concretização do Memorial Coamo pude comprovar e vivenciar vários aspectos que fazem desta cooperativa a maior da América Latina. Embora a qualidade técnica e o compromisso com o cooperado sejam características muito presentes na Coamo, a convivência nesse período me fez perceber e admirar a instituição ainda mais, em especial por um aspecto: a educação, carisma e gentileza das pessoas que fazem a Coamo. Desde os colaboradores com funções mais simples até a diretoria e conselho administrativo, todos, sem exceção, oferecem educação e simpatia de forma única!
RC: E esse cooperativismo, como avalia e pode resumir, como instrumento social, técnico e econômico?
Gracieli: O cooperativismo é formado por princípios que norteiam as instituições de forma a manter a coerência e a atuação em prol dos objetivos que unem seus cooperados. Dentre esses princípios destaco o quinto: Educação, Formação e Informação. Com base neste princípio percebe-se o interesse da instituição pelo desenvolvimento dos seus membros, investindo especialmente na formação de novas lideranças e formadores de opinião, essenciais para a sustentabilidade social e econômica atuais. A Coamo segue na prática esse princípio constantemente, mas especialmente quando se propôs a registrar e comunicar sua trajetória histórica com o Memorial, levando informação e formação de consciência histórica em relação aos desafios enfrentados para que a instituição pudesse alcançar o patamar atual. Em relação ao social, tenho especial apreço pelo sétimo princípio cooperativista, que é o Interesse pela Comunidade.
Gracieli Erna Schubert Kühl é professora, museóloga e historiadora
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Nesse sentido a Coamo brilha quando coloca seu Memorial a disposição da comunidade em geral, promovendo visitas guiadas a escolas e outras entidades, proporcionando momentos de aprendizado e evolução a partir do seu acervo. O conjunto de princípios cooperativistas se reflete nas ações da Coamo. Em todos os níveis é possível perceber na prática a importância dos valores estrategicamente pautados na missão da cooperativa.
RC: A senhora é professora, museóloga e historiadora. O que faz se apaixonar por cada uma dessas áreas?
Gracieli: Ser professora é algo que busquei desde criança, as brincadeiras sempre envolviam quadro e giz, os sobrinhos e amigos se tornavam alunos e assim meu sonho foi sendo alimentado. Desde 2011 atuo como docente em vários cursos de graduação, além de encontrar realização profissional por meio de projetos diversos, especialmente envolvendo História, Patrimônio, Turismo Cultural, Empreendedorismo e Inovação. A graduação em História surgiu a partir da minha história familiar. Sou neta de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil na década de 1920, após virem os horrores da 1ª Guerra Mundial na Europa. Conhecer mais sobre essa história sempre despertou minha curiosidade, porém meus avós não compartilharam muitas informações sobre esse período, possivelmente em função das dificuldades enfrentadas. Como forma de saciar minha curiosidade sobre isso, optei por cursar a graduação em História. Sendo assim, consegui unir dois desejos em uma formação acadêmica: o sonho de me tornar professora com a curiosidade de conhecer mais sobre meus antepassados me levou para a graduação em História (licenciatura). A museologia se tornou uma escolha após oportunidades que surgiram em minha trajetória profissional, especialmente os convites para coordenação de museus na região Oeste do Paraná. A partir dessas vivencias percebi a carência de profissionais da museologia no interior do Paraná, fato que me levou a cursar uma segunda graduação, desta vez em Museologia, concluída em 2023. Atualmente possuo registro profi ssional junto ao Conselho Regional de Museologia e autorização para atuar como Museóloga.
RC: Como está a educação e o nível de interesse dos alunos de uma forma geral?
Gracieli: Todos somos movidos por interesses específicos, com os estudantes não é diferente. Despertar esse interesse tem sido um dos maiores desafios para professores em sala de aula. Se compararmos a dinâmica escolar com outras áreas do cotidiano, facilmente concluiremos que muitos aspectos externos a escola se transformaram, mas a dinâmica escolar permanece muito semelhante ao que se praticava em tempos passados. Neste sentido, para que possamos tornar a educação mais atrativa ao seu público (alunos), será necessário implantar mudanças que transformem o sistema educacional brasileiro. Algo que certamente não será rápido, nem simples, muito menos tranquilo, pois as discussões em torno da educação sempre envolvem divergência de opiniões. Enquanto não conseguirmos essa transformação no sistema de ensino brasileiro, cabe aos professores, pedagogos e toda equipe escolar criar e manter um ambiente propicio, com ações inovadoras para sanar antigos e novos desafios.
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