Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 557| Maio de 2025 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

GRACIELI ERNA SCHUBERT KÜHL

Historiadora e museóloga, proprietária da OMA Projetos Culturais

“Cada detalhe do Memorial foi pensado para valorizar o passado, provocar o presente e inspirar o futuro da Coamo.”

Com uma trajetória marcada pelo compromisso com a preservação da memória e a valorização da história, Gracieli Erna Schubert Kühl é professora, museóloga e historiadora. Atuando na área desde os anos 2000, lidera projetos em instituições de memória e é fundadora da OMA Projetos Culturais. Na entrevista a seguir, ela compartilha sua experiência à frente da concepção e implantação do Memorial Coamo – um espaço interativo e tecnológico que celebra a história da cooperativa. Gracieli explica as diferenças entre museu e memorial, detalha as etapas do projeto e destaca o impacto da iniciativa para cooperados, colaboradores e visitantes. “Um memorial é um local de lembranças, de homenagens e de identidade”, afirma. Com olhar técnico e sensível, ela também fala sobre o papel do cooperativismo como instrumento de transformação social e econômica e comenta como a tecnologia e a inovação podem ampliar o alcance das ações educativas e culturais.

Revista Coamo: Qual a diferença entre museu e memorial? E por que o espaço da Coamo foi definido como Memorial?

Gracieli Erna Schubert Kühl: Ambas são instituições de memórias. Porém, na prática os conceitos relacionam-se a espaços com origem, função e dinâmicas diferentes. Etimologicamente os termos Museu e Memorial já se diferem. A palavra museu vem do grego mouseion, que significa “templo ou morada das musas”. Enquanto a palavra Memorial tem origem no latim memorialis, significando o “registro que contribui para a memória”. Segundo o Conselho Internacional dos Museus (ICOM), “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade”. Enquanto Memoriais são espaços voltados a preservação e comunicação de memórias individuais ou institucionais, no sentido de prestar homenagens, registrando a trajetória de alguém ou de uma instituição. O espaço de memórias da Coamo foi definido como Memorial justamente por sua proposta conceitual, por apresentar espaços que relembram pessoas e fatos que representam a trajetória histórica da instituição, como forma de homenagear o trabalho coletivo que transformou a Coamo na maior cooperativa agroindustrial da América Latina. Os visitantes como um todo podem vislumbrar as mais de cinco décadas de história, vivenciando feitos e fatos que representam a missão, a visão e os valores desta sólida cooperativa.

RC: Para quem não conhece ainda, resuma o Memorial Coamo? O que encontrar nele?

Gracieli: O Memorial Coamo é um espaço interativo e tecnológico, organizado de forma a apresentar a trajetória histórica da Coamo desde sua fundação até os dias atuais, além de provocar nos visitantes questionamentos sobre o futuro. Portanto o Memorial traz elementos do passado, informações atuais (presente) e reflexões para o futuro. São 12 salas expositivas que apresentam vídeos, fotografi as, interatividade e muita tecnologia para envolver e conduzir o visitante por uma experiência única, repleta de informações que, aliadas às mais novas formas de interatividade, celebram a superação de desafi os e todas as conquistas que permearam a trajetória da Coamo até os dias de hoje.

RC: Quais foram as etapas mais significativas vividas por você e a importância de ter participado deste projeto Memorial?

Gracieli: Importante registrar que todo o trabalho no Memorial Coamo contou com a participação da Sandra Mattei Cardoso, Arquiteta e Urbanista, grande parceira profissional neste projeto. Nesses quatro anos desde o primeiro contato com a Coamo, vivemos vários momentos importantes. Especialmente as reuniões em que apresentávamos o projeto para a Diretoria e o Conselho de Administração. Foram momentos desafiadores, mas de muito aprendizado e crescimento. A cada visita víamos a obra avançando e o espaço do Memorial se transformando. Recordo a emoção que tomou conta de nós quando as divisórias das salas estavam instaladas. Nesse momento foi possível perceber cada espaço planejado, além de poder caminhar pelo espaço conforme os visitantes hoje também o fazem. Outro momento significativo foi acompanhar a visita da Diretoria e Conselho Administrativo, momento em que foi possível visualizar cada detalhe planejado e discutido durante as reuniões de alinhamento. Mas inegavelmente o dia mais significativo nessa trajetória de implantação do Memorial Como foi a inauguração, no dia 11 de outubro de 2024. Pude acompanhar a visita de cooperados fundadores e seus descendentes, presenciar toda a emoção ao se encontrarem nas fotos e textos expostos. Neste dia pude confirmar que o trabalho realizado atendeu ao propósito inicial, pois um Memorial é um local de lembranças, de homenagens e de identidade.

Gracieli Erna Schubert Kühl é empresária e professora. Possui graduação em História (Unioeste 2003); Mestrado em Sociedade, Cultura e Fronteiras (Unioeste 2013); Graduação em Museologia (Claretiano 2023) além de especializações nas áreas de História e Região, Arqueologia, Educação e Patrimônio Cultural. Atua com patrimônio histórico e cultural desde os anos de 2000. Em 2001 assumiu a função de Coordenadora do Museu Histórico Pe. José Gaertner e desde então vem atuando junto a instituições de memória, seja na coordenação ou mesmo assessorando a criação, revitalização e organização das atividades realizadas a partir desses locais. Em 2019 surgiu a OMA Projetos Culturais, empresa especializada em museus e patrimônio cultural. A partir da empresa, ampliou a atuação em projetos culturais envolvendo museus, educação, patrimônio e turismo cultural. Atua como professora junto ao Centro Universitário FAG. Atua com orientação a startups e projetos acadêmicos pautados no empreendedorismo e na inovação, além de um projeto muito especial chamado Escola de Negócios, voltado aos alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio FAG. Também é responsável pelo Núcleo Histórico Eucatur/FAG.

“CADA DETALHE DO MEMORIAL FOI PENSADO PARA VALORIZAR O PASSADO, PROVOCAR O PRESENTE E INSPIRAR O FUTURO DA COAMO.”

RC: O que tem percebido das reações dos visitantes ao Memorial Coamo?

Gracieli: Os grupos que pude acompanhar demonstraram surpresa durante a visita, pois não esperavam que o espaço tivesse tantas opções e fosse amplo a ponto de apresentar tantas informações. Além da qualidade em relação ao conteúdo, os visitantes destacam a interatividade que o Memorial oferece, possibilitando informações que estão além do espaço físico local. Percebo também que a forma como o espaço foi organizado possibilita que o visitante perceba a linha evolutiva e cronológica da cooperativa, partindo dos primeiros registros da história local até reflexões sobre o futuro da sociedade.

RC: Como foi a experiência de conhecer a história e o cooperativismo da Coamo?

Gracieli: Eu, como filha de agricultores, produtora rural e vinculada a cooperativas na região de Cascavel sempre ouvi falar da Coamo como referência no cooperativismo. Com a oportunidade de participar da concretização do Memorial Coamo pude comprovar e vivenciar vários aspectos que fazem desta cooperativa a maior da América Latina. Embora a qualidade técnica e o compromisso com o cooperado sejam características muito presentes na Coamo, a convivência nesse período me fez perceber e admirar a instituição ainda mais, em especial por um aspecto: a educação, carisma e gentileza das pessoas que fazem a Coamo. Desde os colaboradores com funções mais simples até a diretoria e conselho administrativo, todos, sem exceção, oferecem educação e simpatia de forma única!

RC: E esse cooperativismo, como avalia e pode resumir, como instrumento social, técnico e econômico?

Gracieli: O cooperativismo é formado por princípios que norteiam as instituições de forma a manter a coerência e a atuação em prol dos objetivos que unem seus cooperados. Dentre esses princípios destaco o quinto: Educação, Formação e Informação. Com base neste princípio percebe-se o interesse da instituição pelo desenvolvimento dos seus membros, investindo especialmente na formação de novas lideranças e formadores de opinião, essenciais para a sustentabilidade social e econômica atuais. A Coamo segue na prática esse princípio constantemente, mas especialmente quando se propôs a registrar e comunicar sua trajetória histórica com o Memorial, levando informação e formação de consciência histórica em relação aos desafios enfrentados para que a instituição pudesse alcançar o patamar atual. Em relação ao social, tenho especial apreço pelo sétimo princípio cooperativista, que é o Interesse pela Comunidade. 

Gracieli Erna Schubert Kühl é professora, museóloga e historiadora

Nesse sentido a Coamo brilha quando coloca seu Memorial a disposição da comunidade em geral, promovendo visitas guiadas a escolas e outras entidades, proporcionando momentos de aprendizado e evolução a partir do seu acervo. O conjunto de princípios cooperativistas se reflete nas ações da Coamo. Em todos os níveis é possível perceber na prática a importância dos valores estrategicamente pautados na missão da cooperativa.

RC: A senhora é professora, museóloga e historiadora. O que faz se apaixonar por cada uma dessas áreas?

Gracieli: Ser professora é algo que busquei desde criança, as brincadeiras sempre envolviam quadro e giz, os sobrinhos e amigos se tornavam alunos e assim meu sonho foi sendo alimentado. Desde 2011 atuo como docente em vários cursos de graduação, além de encontrar realização profissional por meio de projetos diversos, especialmente envolvendo História, Patrimônio, Turismo Cultural, Empreendedorismo e Inovação. A graduação em História surgiu a partir da minha história familiar. Sou neta de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil na década de 1920, após virem os horrores da 1ª Guerra Mundial na Europa. Conhecer mais sobre essa história sempre despertou minha curiosidade, porém meus avós não compartilharam muitas informações sobre esse período, possivelmente em função das dificuldades enfrentadas. Como forma de saciar minha curiosidade sobre isso, optei por cursar a graduação em História. Sendo assim, consegui unir dois desejos em uma formação acadêmica: o sonho de me tornar professora com a curiosidade de conhecer mais sobre meus antepassados me levou para a graduação em História (licenciatura). A museologia se tornou uma escolha após oportunidades que surgiram em minha trajetória profissional, especialmente os convites para coordenação de museus na região Oeste do Paraná. A partir dessas vivencias percebi a carência de profissionais da museologia no interior do Paraná, fato que me levou a cursar uma segunda graduação, desta vez em Museologia, concluída em 2023. Atualmente possuo registro profi ssional junto ao Conselho Regional de Museologia e autorização para atuar como Museóloga.

RC: Como está a educação e o nível de interesse dos alunos de uma forma geral?

Gracieli: Todos somos movidos por interesses específicos, com os estudantes não é diferente. Despertar esse interesse tem sido um dos maiores desafios para professores em sala de aula. Se compararmos a dinâmica escolar com outras áreas do cotidiano, facilmente concluiremos que muitos aspectos externos a escola se transformaram, mas a dinâmica escolar permanece muito semelhante ao que se praticava em tempos passados. Neste sentido, para que possamos tornar a educação mais atrativa ao seu público (alunos), será necessário implantar mudanças que transformem o sistema educacional brasileiro. Algo que certamente não será rápido, nem simples, muito menos tranquilo, pois as discussões em torno da educação sempre envolvem divergência de opiniões. Enquanto não conseguirmos essa transformação no sistema de ensino brasileiro, cabe aos professores, pedagogos e toda equipe escolar criar e manter um ambiente propicio, com ações inovadoras para sanar antigos e novos desafios.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.